quarta-feira, 1 de julho de 2015

Especial Thierry Mugler - Resenha: Angel Eau De Parfum, por Gabriel Villa


Quando moda, ousadia e sofisticação se traduzem em fragrâncias, marcos da perfumaria acontecem. Thierry Mugler não criou apenas perfumes incônicos e flankers de personalidade, mas um estilo único.

Desde que deu o pontapé inicial na onda dos gourmands até hoje, suas fragrâncias sempre fugiram do óbvio, utilizando notas diferenciadas ou dando novas roupagens à notas já consagradas. Sem fazer questão de agradar as grandes massas, suas criações devem ser apreciadas e compreendidas em seu contexto de criação para que a paixão aconteça.

Dentre estrelas magníficas, cometas brilhantes e visitantes de outro mundo, o mês de julho será dedicado à casa Thierry Mugler e seu inigualável catálogo de fragrâncias ímpares.



Uma estrela caída do céu: assim foi como Angel chegou às prateleiras das perfumarias no ano de 1992, em Paris. Os consumidores, ainda vestidos com a moda dos anos 80, e ainda se perfumando com os grandes florais de decote à base de tuberosas, foram pegos de surpresa com aquele frasco, e mais ainda com aquelas notas tão realistas que os faziam cheirar a sobremesas, contrastando com tantas frutas e com o patchouli matador que caracterizava os bons chypres de antigamente. Em Angel Eau de Parfum, tudo parecia muito escandaloso, muito dramático, trazendo assim a perfeita aura oitentista; mas também cheirava muito grotesco, inovador em excesso, chegando ao ponto de causar encantamento e respulsa, ambos em mesma quantidade.

O que vem confinado no icônico frasco de estrela é realmente uma explosão de notas gourmand com outras que, muito pouco provavelmente, funcionariam numa composição. O fato é que em Angel, tudo funcionou muito bem, fazendo daquele lançamento um sucesso futuro. Angel pode mesmo ser chamado de um perfume futurista, visto que dos anos 2000 para cá, tudo o que se lança é Angel, tudo o que se cheira é Angel; eis aí um perfume que dominou o planeta, direta e indiretamente, espalhando suas camadas aromáticas por tudo e todos, por mais tenebroso que isso possa parecer para alguns.

Angel foi idealizado para ser um perfume que lembrasse a infância do estilista Thierry Mugler. Dizem que ele se inspirou no perfume Nirmala de Molinard, usado por sua mãe; dizem também que ele teria se inspirado por um parque de diversões que lhe era familiar quando criança, e o que se pode tirar disso tudo é que um perfume com acordes de algodão doce e maçã do amor pode mesmo existir, para saciar os desejos de uma criança que não cresceu, para baixar as estrelas das constelações e nos iluminar, nos transportar pelas galáxias e nos abrir as portas de lugares imaginários que existem em nossas próprias mentes.

Ao borrifar Angel, meu mundo se torna azul escuro enquanto vejo explosões cósmicas ao meu redor, que me estonteiam com o perfume das mais suculentas frutas e do mais puro mel: sinto o damasco, o melão, a bergamota, enquanto que o mel domina o cenário e traz do nosso subconsciente um forte odor de tabaco, como que um charuto de mel e frutas. A partir daí, começo a sentir o patchouli arrasar minha consciência, me submeter aos seus caprichos e a sua vontade, enquanto que o chocolate escorre de minha pele com caramelo, sendo pontilhado pelo rosa intenso do algodão doce, com muito açúcar queimando na panela, e âmbar no fundo dando a secura e um pouquinho mais de calor. O perfume fica assim, com muito patchouli, com o chocolate a ficar mais amargo, mais em pó, enquanto que a baunilha também se mostra presente lá atrás e a orquídea tenta, sem sucesso, roubar a cena. O patchouli continua segurando tudo, lançando nos nossos narizes também um bocado de vetiver, e dando toda aquela sugestão de musgo de carvalho dos perfumes de outrora. E é por essas e outras que gosto de ver Angel como um bom chypre: uma abertura cítrica e uma explosão de patchouli e musgo (contrastando com notas adocicadas) como um bom chypre sempre foi. Mas aqui, temos um chypre adaptado para os anos 90, com as inovadoras notas gourmand (no lugar das usuais especiarias de antes) e as frutas aquosas dando o marco noventista que viria a ser utilizado depois até a exaustão em outros perfumes.

Se em Habanita de Molinard temos puro aroma de cigarros (com as flores macias e doces), se em Mitsouko de Guerlain sentimos o musgo com pêssego e canela, em Angel temos o sabor de uma xícara de chocolate quente, fumegante, lá no meio daquela brutalidade toda; brutalidade que, diga-se de passagem, dura eternamente em minha pele, e exala de forma a transformar quem o usa num ser celestial, a ser realmente reverenciado.

No entanto, não acho Angel um perfume “ignorante” como dizem; para mim, é um perfume até confortável, aconchegante, quente e macio como um abraço, sem se falar na elegância que projeta no ar. Pode-se fazer um efeito gigantesco e grandioso com apenas gotas, mas pra mim ainda é um efeito reconfortante, gostoso e viciante. E para Thierry Mugler, te considero e te admiro, por ter lançado um perfume de tamanha originalidade, e que soube brincar em ambos os lados, chypre e gourmand, com tamanha genialidade.

7 comentários:

  1. Bom, viajei nessa resenha.. Kkk
    Não no sentido de ficar perdido, mas sim na imaginação, achei super detalhado, completo!
    Mesmo tendo sentido esse maravilhoso aroma, tive uma visão melhor e mt mais atraente sobre o Angel.

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  2. Uaaaauuuuu!!!
    Meu Amigo (e digo isso com orgulho...Rsrsrsrs) sempre ARRASANDO nas resenhas,
    Sempre com sua forma técnica incrivelmente poética, porém muito fácil de se entender e de viajar junto por todos
    Os lugares que ele sempre nos incita a imaginar!!!
    Amigo Parabéns por mais uma Bela Resenha, e muitooooo obrigado por me apresentar pessoalmente essa incrível criação,
    Que Amei desde a primeira borrifada... Rsrsrsrsrs!!!
    Sempre inspirador ler seus Textos =]

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  3. Nooooossa, que resenha maravilhosa!!! Amo o Angel! Beijos!

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  4. Amo o Angel desde a minha infância. Incrivelmente revivi hoje, apos ganhar de presente do meu esposo,pela minha memória olfativa muitos detalhes de anos atrás. Falo tanto desse perfume que ele me deu de presente, aliás, estou vivenciando o cheiro neste exato momento. Muita alegria nesse cheiro, me remete à coisas boas e felizes. O cheiro mais gostoso que já senti. SUA resenha me fez sentir tudo isso com mais força. Angel para mim é cheiro de vitalidade.

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  5. Tennho vários perfumes importados , mais minha paixão mesmo é pelo o angel, amuu

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  6. Perfeito.... o uso deste perfume é exatamente isso. Parabéns

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